O Twitter anda cheio de observações associando o “Esquenta!”, de Regina Casé, ao “TV Xuxa”. São comentários afiados de espectadores que mantêm um olho na televisão, o outro no computador. Um diz: “Começou o ‘Esquenta!’ da Xuxa”. Outro: “A ‘TV Xuxa’ tá igual ao ‘Esquenta!’, ou é impressão minha?”. Por aí vai. A voz do Twitter é a voz do povo, a voz do povo, a de Deus. Movida por esse silogismo, fui ver que possíveis coincidências aproximariam a eterna Rainha dos Baixinhos de Regina.
Quando o “TV Xuxa” chegou ao fim, no último sábado, concluí que ambas as apresentadoras, figuras popularíssimas e donas de seus respectivos canais de comunicação estabelecidos há anos com seus públicos, continuam muito diferentes. O mesmo não se pode dizer dos dois programas. O “TV Xuxa”, recentemente reformulado para evitar semelhanças com o “Video show”, agora parece um aprendiz de “Esquenta!”. Seu palco físico tem passarelas que avançam em meio ao público, como no vespertino de domingo. Mas as coincidências pegam mesmo no que diz respeito ao formato: trata-se da mesma ideia de visitar manifestações da cultura popular brasileira. Xuxa mostrou frevo, capoeira, pagode, funk, maxixe; recebeu músicos já vistos no palco de Regina. E, mais curioso: deixou para trás a imagem de quase santa/princesa, cultivada por tanto tempo, e, de saia curta, caiu no pagode e no funk com vontade. O “TV Xuxa”, pelo visto, continua em busca de uma identidade.
Vale lembrar que Regina Casé tem uma história antiga com as expressões artísticas regionais. Só para dar dois exemplos, ela fez o “Brasil legal” e comanda o “Um pé de quê”, série do Futura que tem a botânica como tema principal, mas não se esgota nas árvores e alcança a cultura dos lugares que visita. Ou seja: o “Esquenta!”, uma esquina por onde passam ritmos, gírias, dialetos e figuras de todos os calibres e sotaques, é do tamanho da sala de visitas que Regina construiu ao longo de anos de estudiosa investigação. O “Esquenta!” é Regina. Regina é o “Esquenta!”. Não se trata de uma atriz ou de uma apresentadora ocupando um estúdio por algumas horas. Existe um engajamento real. Já no último sábado, a própria Xuxa, num dado momento, entregou: “Preciso ler meu teleprompter”. A frase diz muito.
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